Existem muitas maneiras de se jogar futebol.
De uns anos pra cá, há duas, digamos, mais famosas: o jogo
de posição proposto pelo Barcelona do Guardiola e endeusado mundo afora (posse
de bola, troca constante de posições, construção do jogo desde o goleiro, linha
alta de marcação...) e um jogo mais reativo, de muita marcação de todo o time,
pouca posse, em que um erro do adversário pode dar o contra ataque fatal. Desse
último, temos como grandes exemplos a Inter de Milão de Mourinho e o Atlético de
Madrid do Simeone.
O jogo proposto por Guardiola, extremamente ofensivo, requer
um nível técnico do time absurdo, além de movimentos sincronizados desde a
defesa, até o terço final do campo.
Os relatos são unânimes: é um estilo de jogo difícil de ser
aprendido. Depende demais da qualidade técnica dos atletas. Pode demorar a
funcionar.
Nosso país pentacampeão gosta de times que “joguem bonito”.
Bola no pé, infiltrações, o passe mortal do camisa 10 infernal (eu também tenho
saudades...) , a finalização do gênio.
Qualquer coisa diferente disso não agrada, haja visto a
seleção de 94, que não tinha algo como uma média de 8 gols por jogo e, por isso,
é até hoje rotulada como futebol feio (nem tinha como ser defensiva com Romário
e Bebeto, mas isso é outro papo...).
Aliás, e obviamente, há algo pior: perder!
No Brasileirão deste ano, o Flamengo tem sofrido. Tem jogado
mal, concordo. Mas é um time que fica com a bola, que tenta triangulações, que
tenta não dar chutão. Tenta jogar,
mas é um time em construção.
O estilo, GUARADAS AS DEVIDAS PROPORÇÕES, PELO AMOR DE DEUS,
é mais para um “time do Guardiola” que um “time do Simeone”.
Vale a pena?
Porque pode demorar... Uma falha individual quebra o
trabalho da semana. Uma cobertura errada, um erro de passe que expõe a defesa durante
a transição. E aí acabou.
Talvez seja mais fácil colocar 9 caras atrás da linha da
bola enquanto se defende, deixar três mais talentosos se virando no ataque e
dar carrinho a torto e a direto pra chamar a torcida.
A impressão de que o time está “dando o sangue”, “correndo”,
talvez seja mais interessante e possivelmente mais segura para o treinador.
Se só que importa é a vitória, seja como for, pra que inventar?
Veja, há propostas defensivas bastante elaboradas, e
certamente o trabalho do Simeone e do Mourinho tem muito de aplicação tática e
técnica. Não estou desmerecendo.
O Corinthians desse ano é um exemplo de time que joga com
uma proposta mais reativa.
O que quero dizer é que jogar, digo, propor as jogadas o
tempo todo, e não só esperar as do adversário, pode ser muito mais complexo.
Novamente: vale a pena?
Mais que isso, será que esse “resultadismo” não impede a
evolução do nosso jogo?
Até que ponto o treinador conseguirá se manter firme nas
suas ideias, mesmo que o time não consiga fazer o combinado, mesmo que os
jogadores continuem falhando demais?
Até que ponto um dirigente consegue suportar a pressão dos
maus resultados, torcida, patrocinadores...
É mais fácil trocar o técnico,
mesmo que não se possa garantir pelo que! Pelo menos se falará do time, a marca
estará lá estampada.
Até que ponto é possível lidar com a perda de jogadores?
Como não destruir um trabalho vendo três titulares irem para a China no meio da
temporada?
É tudo muito difícil... Para quem torce, para quem comanda o
futebol, para que joga (ou tenta).
Eu posso ter a esperança de ver um trabalho terminado no
brasileirão?
Vale a pena tentar propor o jogo por aqui?